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Passividade é sinônimo de preguiça? - Rádio Guaicuí FM 99,5

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Passividade é sinônimo de preguiça?

Até que ponto gostar de ser mandada no sexo significa pouco interesse sexual?

Como no dia a dia da vida ordinária, seja nas rodas de amigos ou conversas virtuais, o assunto “sexo” volta e meia aparece também nos reality shows. O tema, afinal, costuma engajar, gera curiosidade e é até motivo de aproximação entre pessoas, que fazem vezes de confidentes umas das outras. No “Big Brother Brasil 22”,  a pauta “preferências sexuais” apimentou uma das noites desta edição. Na ocasião, respondendo a perguntas de colegas de confinamento, a professora de biologia Jessilane não pareceu muito entusiasmada. “Gosto de ficar bem de boa, curtindo a vibe. Eu gosto de ser mandada, gosto que façam as coisas comigo”, disse. “A posição que eu mais gosto é de quatro, porém tenho preguiça”, completou a sister.

As revelações de Jessi, que associa uma postura de submissão a uma atitude preguiçosa no sexo, passaram batidas, sem causar estranhamento entre os brothers. Essa reação, ou ausência de reação, parece sintomático de como pode soar normal uma certa displicência quanto ao desejo feminino. “Podemos observar nesse recorte de frase duas questões. A primeira diz sobre ser submissa, e não há nada de errado em alcançar prazer dessa maneira. Já a segunda justifica essa postura pelo viés da comodidade, como se fosse mais fácil estar nessa posição. Não dá para dissociar a relação que é feita entre essas duas questões e as principais queixas de disfunções sexuais femininas, que são o baixo desejo sexual e a dificuldade de atingir o orgasmo”, avalia a psicóloga e sexóloga Laís Ribeiro. “Então, quando a gente pensa em ‘preguiça de transar’, podemos questionar se há algo implícito nesse sentimento que revele sobre um problema que é comum entre as mulheres. Podemos nos perguntar, por exemplo, o que está por trás desse pouco entusiasmo”, avalia.

Números. Segundo o estudo Mosaico Brasil, o primeiro levantamento sobre sexualidade realizado em território nacional, 35% das mulheres adultas sofrem de algum tipo de disfunção sexual. Conforme dados auferidos na pesquisa, a cada cem mulheres, 35 nunca atingiram o orgasmo, e uma em dez relata desejo sexual hipoativo, problema popularmente conhecido como baixa libido.

Evidentemente, Laís não está diagnosticando em Jessi nenhum tipo de disfunção sexual e tampouco vê problema na opção de ser submissa ou em não se animar enfaticamente com uma transa. “Se essa é uma decisão consciente, se é assim que a pessoa alcança o gozo, se é assim que deseja alcançar o prazer sexual, então está tudo certo”, pontua. Mas a frase tal qual dita no reality abre margem para uma interpretação mais profunda, que revela como certas ideias de papéis de gênero ainda se fazem presentes nas dinâmicas sexuais. “Para ser uma opção de prazer legítima, vale questionar se esse desejo de submissão é autêntico da pessoa ou se é algo que foi colocado para ela, como se aquela fosse a única alternativa”, pondera a sexóloga.

Ela lembra que, culturalmente, a feminilidade está associada a uma ideia de passividade, enquanto a masculinidade, a uma atitude viril. “Essa é uma lógica tão presente que ela se replica nas relações homoafetivas. Ou seja, mesmo entre dois homens ou entre duas mulheres, é imaginado que o sujeito visto socialmente como menos másculo será o passivo. O problema é que sabemos que esse tipo de preconceito não se verifica na prática, isto é, esses papéis não seguem um padrão rígido, como alguns costumam pensar”, argumenta Laís, lembrando que ainda hoje são comuns os cursos de noivas pautados na ideia de submissão feminina que prometem capacitar mulheres para o casamento ou salvar um relacionamento em crise. “Como pode-se ver, essa expectativa vai muito além do que a pessoa faz na cama. É esperada uma obediência e uma entrega em outras esferas também”, situa.

Trata-se de um imaginário já tão enraizado que, a exemplo do que aconteceu no “BBB”, o relato de uma mulher sentir preguiça no sexo não surpreende. “Ninguém questiona ou tenta entender melhor por que é algo naturalizado. Aliás, a ausência de prazer feminino é algo naturalizado, e essa postura pode dizer disso também, indicando como a mulher pode se colocar em uma situação apenas para satisfazer o gozo do outro, sem pensar muito na própria excitação”, comenta.

Laís também coloca em xeque a ideia de que a pessoa penetrada será automaticamente passiva em uma transa. “Como já dissemos, está no imaginário a ideia de que o agente que penetra, normalmente aquele que tem pênis, deverá ter o domínio do outro. Esta é uma construção fálica de poder. Mas nós podemos e devemos nos perguntar sobre essa lógica. Será que, sendo penetrada, eu não posso mandar nessa cena de gozo sexual? Será que é mesmo impossível ser penetrada e ter uma postura de domínio e condução sobre a transa?”, provoca a estudiosa, que vai além: “Seguindo por esse caminho, podemos nos afastar dessa lógica binária do ativo e do passivo, onde cada um exerce seu papel de modo muito definido e definitivo. Durante a dinâmica erótica, essas posições podem ser trocadas, podem se misturar, se fundir, se confundir”.

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