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Ter um propósito nos torna maiores e mais capazes, diz filósofo

Brasileira diz que, ao ajudar refugiados da guerra na Ucrânia, sentiu-se mais potente e forte

Por ALEX BESSAS

Há quatro meses, a psicanalista e educadora parental Mary Elainne, 34, vive na Polônia. Durante todo esse período, ela acompanhou com apreensão as notícias da progressiva tensão diplomática entre os governos da Rússia e da Ucrânia. Diante das primeiras notícias do ataque das tropas de Vladimir Putin sobre o país, enfrentou noites insones. Ela sentia que, estando há cerca de oito horas de um lugar que enfrentava uma guerra, poderia fazer algo pelos que ali estavam. “Eu já estava inquieta quando vi um vídeo de cidadãos do Brasil que estavam em um hotel, tentando se refugiar. Foi quando entendi que poderia ser útil”, comenta a brasileira, que, por meio das redes sociais, encontrou Clara Magalhães Martins, criadora da Frente Brazucras. De pronto, se candidatou e passou a atuar ajudando compatriotas a escapar com vida da região que, agora, está sendo atacada.

Mary reconhece que, para ela, a decisão de prestar apoio a seus conterrâneos pareceu muito óbvia. “Foi algo espontâneo, como se eu soubesse que era aquilo que eu deveria fazer”, diz. Talvez, porque a decisão está alinhada ao que ela entende como um propósito pessoal. “É o que me move. Nesse período, fiquei doente, mas não fui para a cama, tive sono, mas resisti a ele até que concluísse uma determinada tarefa… É claro que vai existir o cansaço, que precisamos também cuidar de nós, mas sinto que atuar na linha de frente ajudando essas pessoas me impulsiona a superar desafios que aparecem no cotidiano”, examina.

Para além de um gesto louvável de generosidade e empatia, a postura da psicanalista e educadora parental é exemplo da força dos propósitos em nossas vidas. “Quando encontramos algo que dá sentido para o que fazemos, algo que nos guia, nos tornamos maiores e mais capazes. Saber onde queremos chegar e o que queremos ser nos recarrega e nos potencializa”, garante o filósofo carioca Antoine Abed, autor do livro “Ensaio sobre a Crise da Felicidade”. Na avaliação dele, descobrir o que nos mobiliza é um fator-chave para uma vida mais satisfatória.

Citando o clássico literário “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, o escritor lembra a célebre frase dita pelo Gato Cheshire à protagonista da história. “Quando Alice se vê diante de uma encruzilhada e questiona para onde uma daquelas estradas leva, o personagem responde com uma pergunta. Ele quer saber para onde ela deseja ir, aonde ela quer chegar. Ela, então, admite que não sabe. E ele rebate: ‘Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve’”. Para Abed, a cena funciona como uma alegoria sobre como a ausência de um norte que nos conduza pode nos deixar perdidos em relação à nossa própria história. Aliás, a fábula de Carroll também nos ensina que pode ser difícil despertar para a necessidade de sair desse labirinto.

“Quando vivemos no automático, quando deixamos a vida nos levar, nos colocamos em perigo. Deixamos que, como estar à deriva no oceano, sejamos jogados de um lado para o outro e fiquemos totalmente reféns das circunstâncias. Não que sejamos capazes de ter total controle sobre a nossa vida, mas ter um norte, saber o que queremos e traçar uma jornada para chegar lá é fundamental para que a gente experimente uma sensação de autêntica felicidade”, argumenta, acrescentando que o resultado final não é tão importante. “A jornada, sem dúvida, é mais importante que o destino final”, avalia ele, que ecoa palavras de João Guimarães Rosa:

“Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia”.

Imobilidade

Antoine Abed acredita que, hoje, uma certa ideia de liberdade extrema, quando não se esgotam as possibilidades de caminhos, pode funcionar como um fator imobilizante para muitos. “Se eu posso ser tudo, se eu imagino que tudo depende do meu esforço pessoal, pode ser mais difícil definir o que é, de fato, o meu propósito”, comenta. Ao mesmo tempo, ele destaca que o imediatismo é também um inimigo do autoconhecimento, necessário para que possamos identificar o que nos move. “Estamos habituados a ter tudo rapidamente, com um clique, com o menor esforço. Logo, ninguém tem paciência para percorrer uma trajetória, para ir de pouco a pouco. É como querer subir o Everest sem ter subido antes nem mesmo a Pedra da Gávea”, compara, sinalizando que essas atitudes podem repercutir em frustração e paralisia, gerando, inclusive, o adoecimento mental e emocional.

O filósofo e escritor defende que, para compreender que propósitos fazem sentido para nós, devemos nos expor e nos abrir em um esforço de autoconhecimento. “Você nunca saberá se surfar grandes ondas é algo que vai te mobilizar se você nunca sequer enfrentar uma onda pequena”, sinaliza. Nesse sentido, Abed aponta que a forma como um indivíduo foi criado será determinante para que ele se encontre. “Uma família que superprotege uma criança pode estar privando um adulto de compreender o que o move”, crava, ponderando que os pais devem atuar no sentido de capacitar seus filhos a fazer escolhas e tomar decisões de maneira consciente, sem ceder o tempo todo ao automatismo.

Não por acaso, Mary Elainne entende que seus ideais de solidariedade vêm de berço. “O carro do meu pai estava sempre cheio, a minha mãe era aquela que sempre acompanhava um enfermo em um hospital, que passava a noite ao seu lado… Talvez, ao escolher minha profissão, eu tenha sido guiada por esses ensinamentos, por esse propósito de cuidar do outro, de ajudar”, comenta.

Hoje, a brasileira dedica boa parte do tempo dela a fazer o intermédio entre as pessoas que estão buscando refúgio e aquelas que estão oferecendo abrigo fora das fronteiras ucranianas. Ela relata que, quando se engajou nesse trabalho, a rede de apoiadores era pequena, somando 30 pessoas em um grupo no aplicativo de conversa Telegram. “Agora, somos mais de mil, entre voluntários, pessoas que estão no grupo para se informar, parentes de brasileiros que estão na Ucrânia e também pessoas que ainda estão no país e que esperam informações sobre como ajudar outras em situação similar ou sobre como sair de lá”, detalha.

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